Jack vai lhe mostrar seu quarto: "O quarto na torre", de E. F. Benson

O inglês Edward Frederic Benson (1867-1940) foi o mais prolífico de uma família de escritores de histórias fantasmagóricas. Romancista, contista, biógrafo, memorialista e arqueólogo, escreveu tanto comédias – como a série Mapp and Lucia, uma sátira à classe média alta inglesa das décadas de 1920 e 1930 – quanto histórias de terror, suspense e ficção científica. Também combinou elementos de diferentes gêneros, como no excelente conto “How Fear Departed from the Long Gallery” (1920). Publicada originalmente em 1912, "O quarto na torre" (“The Room in the Tower”) é uma de suas histórias mais conhecidas.

Alerta de gatilho: a história menciona suicídio, sem se aprofundar no tema; mesmo assim, o conteúdo pode ser sensível para alguns leitores.

[O sonho recorrente] começava à porta de uma grande casa de tijolos vermelhos onde, pelo que podia apreender, eu deveria me hospedar. O criado que me abria a porta dizia que o chá estava sendo servido no jardim e me guiava por um vestíbulo baixo, revestido de lambris escuros e com uma grande lareira aberta até um verdejante gramado rodeado por canteiros de flores. Ali, um pequeno grupo estava reunido à mesa do chá, mas as pessoas me eram desconhecidas, à exceção de uma, um colega de escola chamado Jack Stone, que me apresentava a sua mãe, a seu pai (os anfitriões) e a suas duas irmãs. Lembro que fiquei um tanto surpreso ao me ver ali, uma vez que o garoto em questão me era quase desconhecido e não me agradava o pouco que dele eu sabia; além do mais, saíra da escola no ano anterior. A tarde estava muito quente e a sensação de sufocamento era intolerável. Um muro de tijolos vermelhos corria do outro lado do gramado, com um portão de ferro no centro e uma nogueira do lado de fora. Ficamos à sombra da casa, de frente para um rol de compridas janelas pelas quais se via uma mesa posta reluzindo com vidro e prata. Esse lado ajardinado da casa era bastante extenso e numa de suas extremidades ficava uma torre de três andares que me parecia bem mais antiga do que o restante da propriedade.

A escritora Anne M. Pillsworth descreve o conto como uma de suas “histórias favoritas de sonho”: “Acho a descrição do pesadelo recorrente do narrador tão detalhada, tão psicologicamente plausível em sua progressão, que nunca consigo escapar de seu laço de suspense”.

Não demorou muito, a sra. Stone, que, como todo o grupo, se mantivera em absoluto silêncio, me disse: — Jack vai lhe mostrar seu quarto: reservei para você o quarto na torre.
Inexplicavelmente, meu coração desandou diante dessas palavras. [...] Atravessamos o vestíbulo em silêncio, subimos uma grande escadaria de carvalho com muitas curvas e chegamos a um estreito patamar com duas portas. Jack abriu uma das portas para que eu entrasse e, sem me acompanhar, fechou-a atrás de mim. Então, soube que minha suposição estava correta: havia algo horrível no quarto e, sufocado pelo terror crescente do pesadelo, acordei num espasmo de medo.

Leia O quarto na torre, de E. F. Benson, em tradução minha.

Fontes: Weird Fiction Review, Tor.com.

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